domingo, 17 de maio de 2009

já não me lembro do som exacto da sua voz...

7 anos e parece que foi ontem.

há 7 anos atrás ele morria, após dois anos a lutar contra uma doença em que o próprio corpo o atraiçoou. em 2000 descobriu que tinha um linfoma e desde aí foi uma história feita de recuperação e recaída, em que a cada recaída as hipóteses diminuiam para metade. a seguir à terceira recaída não houve recuperação.

andámos juntos no 10º, 11º e 12º ano. fomos colegas de bancada no laboratório. ele carregava nos r's e tinha um excesso de pigmentação nas bochechas que o tornava eternamente rosadinho. aturou-me muito mau humor matinal e não só. eu fazia-o rir, envergonhava-o e conseguia que fizesse poses para as fotos :)

cada um foi para o seu curso e para a sua universidade. separámo-nos. reencontrámo-nos em 2000 estávamos a acabar os cursos e havia fitas para assinar. um mês depois do reeencontro soubemos do linfoma e nunca mais a vida nos voltou a separar. acabou o curso já doente. procurou emprego. começou a trabalhar exactamente no que gostava. projectou a remodelação de uma casa que acabou por nunca ver remodelada. durante dois anos encontrámo-nos e falávamos, sobretudo, em ambiente hospitalar. nunca o vi (e sei que nunca o foi) ser mal-educado com ninguém nesse tempo de hospital, em que as dores eram mais que muitas, nunca estava mal-disposto ou amuado ou revoltado, recebia-nos sempre com um sorriso e dizia sempre obrigado. ria-se muito comigo. ele e os restantes que o visitavam diariamente no hospital. naquela altura, como agora, só dizia parvoíces :) em 2001, quando hesitei em ir um mês num projecto de voluntariado porque não sabia se ele ainda cá estaria quando voltasse, ele ficou dois meses num quarto asséptico (porque lhe fizeram um tratamento muito agressivo seguido de transplante de medula). fui e vim e ele estava. ao longo desse tempo pusemos a vida em dia e nada de importante ficou por dizer. na última páscoa (já ele estava novamente no hospital) combinámos ir a Londres, que nenhum dos dois conhecia. não chegámos a ir, nem juntos nem separados. e assim continuamos.


no último dia em que o vi com vida na altura da despedida, porque estava rodeado de muitos amigos e familiares e já mal falava, mandou-me um bjinho pelo ar. guardo-o comigo, até hoje...

5 comentários:

Mãe Sisa 17 de maio de 2009 às 12:05  

esta 2ª foto mostra exactamente a expressão que eu recordo dele...

Xu 17 de maio de 2009 às 15:08  

Lembro-me deste percurso td e destas coisas q aki escreveste. Sei tb q tinha um pijama girissimo q ele usava com orgulho apesar de ter uns bonecos. Lembro-me da tua impotencia sem nd poderes fazer senao esperar q ele n sofresse muito e apesar de td ele sofreu. Lembro-me do teu desgosto e de como a historia do Nuno te marcou ... até hoje!
Um beijinho enorme e carregadinho de mimos só pa ti!

Mafalda 17 de maio de 2009 às 18:08  

maf arrepiadinha!grr:S

A menina das bolinhas 17 de maio de 2009 às 23:20  

eh pá... chorei, fiquei mesmo comovida... Quando partir gostava que alguém falasse de mim com essa ternura

Sofia 18 de maio de 2009 às 15:27  

Só tu me fazes lembrar destas pessoas fantásticas.
Também o recordo assim.
Quando eu crescer quero ser como tu. Quero guardar as pessoas assim.
Quando perco alguém não consigo descreve-las assim. Guardo-as no mais fundo de mim. Tu estás muito lá no meu fundo e não te perdi. Não consigo dizer às pessoas que as amo.
Sou má.

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