gatos pretos ou como cheguei ao mais recente livro

confesso que já lhe tinha pegado algumas vezes aquando das minhas incursões à livraria.
por razões mais do que óbvias e que em nada se prendem com literatura.
pegava, folheava, lia a sinopse, lia o início, olhava para o preço... e ficava na dúvida. confesso também que tenho algum preconceito aos livros óbvios que aparecem em todos os escaparates, montras e afins. esta semana li um post sobre este livro e, finalmente, decidi-me a arriscar. (afinal eu já o tinha namorado faltava só um empurrãozinho).

ainda vou muito no início mas estou deliciada. há um depuramento nas descrições que as tornam claras e, simultaneamente próximas, histórias que se entrecruzam e um homem capaz de falar com gatos.

por estes dias e neste cadeirão, olhando lá fora a chuva que cai, tem sido o meu deleite.

"

- Ora viva! - cumprimentou o velhote.

O gato, um macho preto, grande e idoso, levantou ligeiramente a cabeça e, contrariado, devolveu a saudação muito baixinho.

- Isto é que hoje está um belo dia.

- Hmm - fez o gato.

- Não há nem uma nuvem no céu.

- ... por enquanto.

- Está a querer dizer que o tempo vai piorar?

- Parece que vamos ter nuvens lá mais para a tarde - avançou o gato preto, esticando vagarosamente uma pata e semicerrando os olhos, antes de lançar ao velhote um longo olhar penetrante.

Com um sorriso de satisfação estampado no rosto, o homem devolveu-lhe o olhar. Meio aparvalhado, o gato ainda hesitou um bocado, mas depois lá disse:

- Com que então sabe falar?"

in Kafka à beira-mar

[Haruki Murakami]