quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Poemas que vivem na Casota da Piquenina (9)

A Mãe Sisa pediu mais um.
O Zé continua a "impingir" o LisbonRevisited a toda a gente! (Zé dixit).
E eu continuo a dar largas ao meu pecado de raíz! Com meia dúzia de livros começados, só consigo persistir na leitura de poesia.

Para ela e para ele, e para o vastíssimo auditório (contando assim por alto são 3 pessoas) que por aqui passa, cá vai:

Lisbon Revisited

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer. Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral! Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!


Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos? Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.

Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Fernando Pessoa

3 comentários:

Sofia 16 de outubro de 2008 às 08:25  

Esta semana especialmente sinto-me como o grande Pessoa.
Será que estou a desintegrar???
Se calhar é a depressão sesonal, do Outono.
Beijos, Abraços e muitos Palhaços:)

josé.l.alves 16 de outubro de 2008 às 10:51  

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
...
Estou hoje satisfeito, porque impingi um poema :)
...
Ah, o catártico Campos Pessoa, que nos puxa para cima com a sua negatividade universal.

Mãe Sisa 17 de outubro de 2008 às 15:56  

Acertaste em cheio, com este,não foi?!?

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