domingo, 28 de setembro de 2008

Saber esperar


Hoje viajei, mais uma vez, para os EUA. A entrada no país acontece sempre por Newark; é aí que tenho o “prazer” de cumprir os procedimentos de imigração. Não é agradável, os polícias não são simpáticos e, acima de tudo não é rápido.
A espera é normalmente longa: entre 30 a 90 minutos, dependendo do número de voos/pessoas a chegar, do número de guichets a funcionar, da rapidez dos computadores (sempre os computadores!) e do estado de espírito dos funcionários… Muito importante!
O que qualquer pessoa que cumpre estes procedimentos sabe, é que não adianta protestar com o tamanho da fila, não adianta fazer cara feia, nem adianta alegar que se tem uma ligação daí a pouco… cada qual aguarda a sua vez, ordeiramente, telemóveis desligados e nada de confusões, isto que quiser mesmo entrar no país!

A experiência de hoje foi a mais desagradável que tenho desde há um ano a esta parte. Não foi a mais longa mas foi a mais desagradável. E não foram os polícias os responsáveis (podiam ser, acreditem!), foi uma senhora na fila, atrás de mim. Explico.

A senhora (portuguesa) saiu do seu voo (o de Lisboa que chegou minutos antes do meu, vindo do Porto) e dirigiu-se para a fila dos serviços de fronteira – mas para a fila dos residentes! Ah, e a senhora não é residente claro está!
Chegada à frente o polícia deu-lhe as indicações necessárias para se dirigir à fila dos não residentes – o seu estatuto. Que estava longa… mas é a vidita! Até aqui tudo normal, correcto?

Incorrecto, porque a senhora não queria ir para a outra fila – que é mais longa porque os procedimentos são mais demorados -, não queria esperar e não entendia porque tinha que ser assim. (Estão a adivinhar a minha sorte… quando veio recambiada ficou atrás de mim.) Durante os 60 minutos seguintes NÃO SE CALOU!!! Que estava tudo desorganizado, que era impossível, que este país não presta, que estes funcionários são muito lentos, que a outra fila é que anda e porque é que esta não anda, que isto é impossível… tudo isto repetido vezes sem fim, a olhar o relógio de 5 em 5 minutos e a reportar há quanto tempo estava na fila (acompanhada de um senhor – marido? companheiro? – que quase não abria a boca…).
Confesso que estive tentada, por mais que uma vez, a explicar-lhe o que lhe tinha acontecido, de uma forma lógica e racional. Não porque me sinta particularmente compelida a defender os americanos mas porque cheguei a pensar que uma explicação lhe podia acalmar a fúria. Mas não o fiz; não o fiz porque na verdade não queria que ela pensasse que eu queria conversar com ela (medo!!! não queria!!!) e não o fiz porque não me pareceu que ela procurasse uma explicação, mas apenas queixar-se, dizer mal e ter assim o que contar desta sua viagem aos EUA.

Com tudo isto (desculpem, o relato ficou mais longo do que eu contava) dei comigo a pensar: como é possível ser-se tão cego, perder-se assim a perspectiva sobre uma situação (e esta era simples) e não conseguir reconhecer um erro nosso e aceitar o que não pode, de todo, ser mudado? Como é possível não perceber que tantas e tantas vezes não é o mundo inteiro que está errado à nossa volta mas somos nós? Como é possível ser-se tão arrogante, tão crítico e tão negativo. Tudo está errado; todos estão errados.

Fiquei incomodada com aquela pessoa que proporcionou a si mesma e às pessoas que a rodeavam momentos tão desnecessariamente negativos. A arrogância e intolerância desta senhora relembrou-me, em coisas simples, a importância da humildade e de um olhar positivo sobre as coisas. Se calhar devia agradecer-lhe :)

Boa semana,
Raio de Sol

2 comentários:

Piquenina 28 de setembro de 2008 às 23:24  

Se voltares a encontrá-la diz-lhe obrigado, por ti e por mim ;)

Mãe Sisa 1 de outubro de 2008 às 12:39  

Por nós, já agora...
As coisas simples revestidas de humildade são, sem dúvida, as de maior valor!
A pequenez de espírito é uma coisa muito pobre. Tenho pena das pessoas como essa senhora: não sabem o que REALMENTE tem valor na vida.

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