Na mesinha de cabeceira (13)
"A criança nº 44", romance de estreia de Tom Rob Smith, decorre nos anos 50 na União Soviética. Estaline está no poder e em construção encontra-se um esquema de sociedade (im)perfeita.
Um relato crú e vivo do que foram esses tempos e dos pecados do regime, não se recomenda a sua leitura em alturas de sensibilidade à flor da pele. A personagem central: o medo, ainda hoje vive entre nós.
Alguém ousará dizer a verdade?
"Como Maria decidira morrer, o seu gato teria de se desenvencilhar sozinho. Cuidar daquele animal de estimação prolongara-se até um ponto em que deixara de fazer qualquer sentido. As ratazanas e os ratos há muito que tinham sido apanhados e comidos pelas pessoas da aldeia. Pouco depois, todos os animais domésticos haviam desaparecido. Todos, à excepção de um, aquele gato, a companhia que ela manivera escondida. Porque não o matara? Precisava de qualquer coisa para a qual viver, a quem proteger e amar - algo que valesse a pena sobreviver. Prometeu continuar a alimentá-lo até ao dia em que não tivesse nada para comer. E esse dia era hoje. Já tinha cortado as botas de couro em finas tiras, cozendo-as com urtigas e sementes de beterraba. Já tinha cavado à procura de minhocas, e chupando a casca das árvores. Naquela manhã, num delírio fervoroso, roera a perna do banco da cozinha, mastigando-a incessantemente, até se lhe cravarem puas nas gengivas. (...)"
1 comentários:
por isso é que ainda não o comecei a ler...
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